1M1 - O estudante e a sociedade
Antes de tudo é preciso conhecer e ter o entendimento de um dos conceitos chaves da Sociologia que é a Sociedade:
SOCIEDADE: organização humanamente fundada ou sistema de inter-relações que articula indivíduos numa mesma cultura. Todos os produtos da interação humana, a experiência de viver com outros em torno de nós. Os humanos criam suas interações e, uma vez criados os produtos dessas interações, têm a capacidade ou o poder reverter sobre os humanos a fim de determinar ou limitar ações. Com freqüência, experimentamos a sociedade (organização humanamente fundada) como algo externo aos indivíduos e às interações que a fundam.
- Na sociedade encontramos uma rede complexa em que indivíduos desempenham funções variadas e complementares.
- O estudante cumpre um papel/função dentro da sociedade. As vezes não conseguimos visualizar seu destaque devido seu caráter submisso às diretrizes educacionais.
- Mas qual é o papel do estudante?
- Muita das vezes é relacionada na idéia que vincula o jovem à sociedade.
- O estudante é parte e agente das transformações movidas pelas ações humanas. Ele é a possibilidade de inovação, caso esteja inserido de forma crítica na sociedade e não apenas como um receptor passivo das informações. Pode, portanto transformar informações absorvidas em conhecimento.
O que é a sociologia?
- Podemos dizer em linhas gerais que a Sociologia é a ciência que tem como estudo as relações sociais e interações humanas. É o conhecimento relativo ao homem e à sociedade mas apenas na medida em que o pode obter cientificamente.
- Podemos considerar também a sociologia como “autoconsciência crítica da realidade social”, pois é uma ciência em que o próprio homem é o objeto de reflexão e estudo.
- A Sociologia procura emancipar o entendimento humano sobre a sociedade desvencilhando-se do senso comum. Possui discursos e métodos científicos próprios.
Quando surge?
- A Sociologia enquanto campo delimitado do saber científico surge apenas em meados do século 19 na Europa, contexto de uma revolução multifacetada que tem como protagonista a burguesia.
- A Europa nesse momento histórico passa por um período marcado por uma instabilidade expressa na forma de crises nos diversos âmbitos da vida material, cultural e moral.
- A trajetória da Sociologia no Ocidente, só começa a ser delineada com o movimento político e intelectual conhecido como Iluminismo (Inglaterra, Holanda e França, 1590 - séc XVII e XVIII), que exerceu enorme influência no século XVIII, propondo reformas no interesse das classes privilegiadas (elite), conforme leis que regeriam ao mesmo tempo a sociedade, o universo e a natureza e a Revolução Industrial (Inglaterra, 1750 com introdução da máquina a vapor - séc. XVIII em diante). Em seguida, após a Revolução Francesa ( França, 1789 – 1799 ) e a queda do Antigo Regime ( regime político vigente na França até a Rev. Francesa ) , a Sociologia adquiriu os traços que ostenta hoje em dia, aos poucos destituindo-se da roupagem de ciência ética, de filosofia política ou social, preocupada em determinar uma ordem justa das relações humanas, para concentrar-se na descrição e interpretação dos elementos — desempenhos, grupos, valores, normas e modelos sociais de conduta — que determinam a integração dos sistemas sociais.
Revolução | Século / Ano | Esfera de atuação e impacto |
Iluminismo | a partir de 1590, séc. XVII – XVIII | ideológica |
Industrial | segunda metade do séc. XVIII ( 1750 ) | econômica |
Francesa | segunda metade do séc. XVIII ( 1789 ) | política |
- O triunfo da indústria capitalista na revolução industrial desencadeou uma crescente industrialização e urbanização, o que provocou radicais modificações nas condições de existência e nas formas habituais de vida de milhões de seres humanos. Estas situações sociais radicalmente novas, impostas pela sociedade capitalista, fizeram com que a sociedade passasse a se constituir em "problema". Surge também uma novas classes sociais constituídas pela burguesia e proletariado.
- As transformações econômicas que o ocidente europeu presenciou desde o século XVI, provocaram modificações na forma de conhecer a natureza e a cultura. A partir daí, o pensamento deixa de ter uma visão sobrenatural para a explicação dos fatos da natureza e passa a ser substituído pelo uso da razão. Em relação a isso o Iluminismo contribui reivindicando o emprego sistemático da razão para libertar o conhecimento do controle teológico, da tradição, da revelação e para a formulação de uma nova atitude intelectual diante dos fenômenos da natureza e da cultura.
- A revolução francesa contribuiu para o surgimento da sociologia na medida em que o objetivo dessa revolução era mudar a estrutura do Estado monárquico e, ao mesmo tempo, abolir radicalmente a antiga forma de sociedade; promover profundas inovações na economia, na política, na vida cultural, etc; além de desferir seus golpes contra a Igreja.
- Principais conseqüências da Revolução Industrial:
l O fim do produtor independente
l Êxodo rural e explosão demográfica urbana
l Processo de proletarização
l Miséria (doenças, prostituição, suicídios, alcoolismo, violências, etc.)
l Primeiras manifestações operárias (ludismo, cartismo)
l Criava-se uma sociedade altamente competitiva e individualista
- Principais conseqüências do Iluminismo:
l Derrocada do Teocentrismo como forma explicativa do mundo
l Consolidação do Liberalismo
l Notório desenvolvimento das Ciências Naturais e Humanas
- Principais conseqüências da Revolução Francesa:
l Queda do Estado monárquico e origem do Estado Moderno Burguês (executivo, legislativo e judiciário).
l Criação do Estado Laico e fim do predomínio político da autoridade da Igreja Católica.
l Burguesia toma o Estado e assume papel hegemônico
- O conjunto desses processos históricos trouxe não somente progressos como também uma infinidade de problemas sociais que conturbaram a Europa do século XIX.
- Esse “turbilhão social” faz com que surjam intelectuais preocupados e propostos a por uma “ordem social” oriunda dessas revoluções.
- Neste contexto é que surge a Sociologia.
- Pensadores como Tocqueville, Monstesquieu, Le Play, Saint-Simon, Augusto Comte entre outros vão sistematizar e refletir sobre a realidade social da época.
Os primeiros sociólogos
- O termo Sociologie foi cunhado por Auguste Comte, que esperava unificar todos os estudos relativos ao homem — inclusive a História, a Psicologia e a Economia. Seu esquema sociológico era tipicamente positivista, (corrente que teve grande força no século XIX), e ele acreditava que toda a vida humana tinha atravessado as mesmas fases históricas distintas e que, se a pessoa pudesse compreender este progresso, poderia prescrever os remédios para os problemas de ordem social.
- Em relação ao Positivismo:
l Corrente científico-filosófica que foi umas das precursoras da Sociologia. Seus precursores foram Saint-Simon e Augusto Comte (discípulo de Saint-Simon, que inclusive criou o termo “Sociologia”).
l Era baseada principalmente na afirmação das ciêcias experimentais.
- Podemos caracterizar três premissas básicas no positivismo:
3. As Ciências da Sociedade, assim como as da Natureza, devem limitar-se à observação e à explicação causal dos fenômenos, de forma objetiva, neutra, livre de julgamentos de valor ou Ideologias, descartando todas as pré-noções e preconceitos (neutralidade axiológica).
Auguste Comte
- A contribuição principal de Comte à filosofia do positivismo foi sua adoção do método científico como base para a organização política da sociedade industrial moderna.
- O estado positivo corresponde à maturidade do espírito humano. O termo positivo designa o real em oposição ao quimérico, a certeza em oposição à indecisão, o preciso em oposição ao vago. É o que se opõe as formas teológicas ou metafísicas de explicação do mundo. Ex: a explicação da queda de um objeto ou corpo: o primitivo explicaria a queda como uma ação dos deuses; o metafísico Aristóteles explicaria a queda pela essência dos corpos pesados, cuja natureza os faz tender para baixo, onde seria seu lugar natural; Galileu, espírito positivo, não indagaria o porquê, não procuraria as causas primeiras e últimas, mas se contentaria em descrever como o fenômeno da queda ocorre.
- Não era apenas quanto ao método de investigação que a filosofia positivista se aproximava das ciências da natureza. A própria sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam harmonicamente, segundo um modelo físico ou mecânico. Por isso o positivismo foi chamado também de organicismo.
Lei dos Três Estados - características | ||
Estado Teológico | Estado Metafísico | Estado Positivo |
- tudo tem origem no sobrenatural | - tudo tem origem na razão, na natureza e em forças misteriosas| | - ciência substitui a razão, natureza e forças misteriosas |
Dividiu a Sociologia em dois campos principais: Estática social, ou o estudo das forças que mantêm unida a sociedade; e Dinâmica social, ou o estudo das causas das mudanças sociais.
ESTUDO DA ESTÁTICA SOCIAL = ORDEM
ESTUDO DA DINÂMICA SOCIAL = PROGRESSO
Alguns CONCEITOS BÁSICOS da Sociologia
CULTURA: conjunto de tradições, regras e símbolos que dão forma a, e são encenados como, sentimentos, pensamentos e comportamentos de grupos de indivíduos. Referindo-se principalmente ao comportamento adquirido, por oposição ao dado pela natureza ou pela biologia, a cultura tem sido utilizada para designar tudo o que é humanamente criado (hábitos, crenças, artes e artefatos) e passado de uma geração a outra. Nessa formulação, a cultura distingue-se da natureza e distingue uma sociedade da outra.
LINGUAGEM: um sistema de símbolos verbais através dos quais os seres humanos comunicam idéias, sensações e experiências. Por meio da linguagem estes podem ser acumulados e transmitidos através das gerações. A linguagem não é somente um instrumento ou um meio de expressão, ela também estrutura e molda nossas experiências do mundo e o que observamos ao nosso redor.
VALORES: idéias que as pessoas compartilham sobre o que é bom, mau, desejável e indesejável. Normalmente eles são muito gerais, abstratos e transcendem variações situacionais.
NORMAS: regras comportamentais ou padrões de interação social. Em geral derivam dos valores, mas podem também contrapor-se a eles, e servem como guias para julgamento dos comportamentos individuais. As Normas estabelecem expectativas que dão forma às interações.
“Cultura. Aqueles padrões de significado que qualquer grupo ou sociedade utiliza para interpretar e avaliar a si próprio e sua situação.” Bellah e outros, Habits of the Heart
1985:333
“Cultura. Um sistema adquirido e duradouro de esquemas de percepção, pensamento e ação, produzidos por condições objetivas, mas tendendo a persistir mesmo após uma alteração dessas condições.” Bourdieu, The Inheritors. 1979.
“Hábitos. Um conjunto de relações históricas ‘depositadas’ no interior dos corpos individuais sob a forma de schemata mentais e corpóreos de percepção, apreciação e ação.” Bordieu
“Cultura. O que significa agir segundo a própria cultura é, de modo geral, seguir as próprias inclinações assim como foram desenvolvidas pela aprendizagem com outros membros da própria comunidade. Hannerz, Soulside, 1969:177.
“Cultura. Refere-se ao repertório aprendido de pensamentos e ações, exibidos por membros de grupos sociais – repertórios [transmitidos] independentemente da hereditariedade genética de uma geração à outra.” Harris, Cultural Materialism, 1979:47
“Cultura. Veículos simbólicos de significado, incluindo crenças, práticas rituais, formas de arte, cerimônias, bem como práticas... informais, tais como a linguagem, a fofoca, histórias e rituais da vida diária.” Swidler, “Culture in Action”, 1986:273
“Cultura. O cultural é a elaboração criativa, variada, potencialmente transformadora de algumas relações sociais/estruturais fundamentais da sociedade.” Willis, Learning to Labor. 1977:137
ORGANIZAÇÃO SOCIAL: O arranjo das partes constituintes da sociedade, a organização de posições sociais e a distribuição de indivíduos nessas posições.
STATUS: nichos e posições socialmente definidos (aluno, professor, administrador).
PAPEL: cada status porta um feixe de comportamentos esperados: como uma pessoa naquele status deve pensar, sentir, assim como as expectativas sobre como devem ser tratadas por outras. O feixe de de deveres e comportamentos esperados que se fixou num padrão de conduta consistente e reiterado.
GRUPO: duas ou mais pessoas interagindo regularmente com base em expectativas comuns sobre o comportamento dos outros; status e papéis interrelacionados.
INSTITUIÇÕES: padrões de atividade reproduzidos através do tempo e espaço. Práticas repetidas de forma regular e contínua. As instituições tratam com freqüência dos arranjos básicos de vivência que os humanos elaboram nas interações uns com os outros e por meio dos quais a continuidade através das gerações é alcançada. Os blocos básicos de construção das sociedades. As instituições sociais são como edifícios que vão sendo constantemente reconstruídos pelos próprios tijolos de que são feitos.
ESTRUTURA SOCIAL: A estrutura refere-se ao padrão numa cultura e a organização através da qual a ação social tem lugar; arranjos de papéis, organizações, instituições e símbolos culturais que são estáveis ao longo do tempo, muitas vezes despercebidos, cuja mudança é quase invisível. A estrutura tanto permite quanto restringe o que é possível na vida social. Se um edifício fosse uma sociedade, as fundações, as colunas de suporte e as vigas seriam a estrutura, que tanto constrangem quanto permitem os vários arranjos espaciais e os tipos de ambiente (papéis, organizações e instituições). Schemata e recursos (materiais e humanos) através dos quais as ações sociais tem lugar, são padronizados e institucionalizados. Incorporam tanto a cultura quanto os recursos da organização social.
Estrutura social. O conjunto organizado de relações sociais no qual os membros da sociedade ou do grupo estão diferentemente implicados. Comportamento e relações padronizados. “Arranjos padronizados de conjuntos de papéis, conjuntos de status e seqüências de status podem ser mantidos para compreender a estrutura social.” Merton, Social Theory and Social Structure, pág. 370.
“Estrutura Social. Arranjos padronizados de conjuntos de papéis, conjuntos de status e seqüências de status conscientemente reconhecidos e em operação sistemática numa determinada sociedade, intimamente ligados às normas, políticas e sanções legais.” Turner. Drama, Fields and Metaphors, 237.
“Estrutura Social. Sistemas relativamente estáveis de relações sociais e oportunidades nas quais os indivíduos se encontram e por meio das quais são vitalmente afetados, mas sobre as quais a maioria não tem controle e cuja natureza exata normalmente desconhece.” Greenfield. Nationalism, pág. 2.
ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL: a divisão sócio-econômica da população em camadas ou estratos. Quando falamos em estratificação social, chamamos atenção para as posições desiguais ocupadas pelos indivíduos na sociedade. Nas sociedades tradicionais de grande porte e nos países industrializados de hoje, há estratificação em termos de riqueza, propriedade e acesso aos bens materiais e produtos culturais.
RAÇA: um grupo humano que se define e/ou é definido por outros grupos como diferente...em virtude de características físicas inatas e imutáveis. Um grupo socialmente definido com base em critérios físicos.
ETNIA: práticas culturais e pontos de vista de uma determinada comunidade, pelos quais se diferenciam de outras. Os membros de grupos étnicos vêem a si mesmos como culturalmente distintos de outros grupos da sociedade e são vistos como tal pelos outros grupos. Muitas características diferentes podem distinguir os grupos étnicos uns dos outros, porém, as mais comuns são a linguagem, a história ou a ancestralidade – real ou imaginada, a religião e os estilos de vestuário. As diferenças étnicas são completamente adquiridas.
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